7 de jan. de 2008

JUSTIÇA #10

Após ler esta HQ posso afirmar, sem o receio de errar, tratar-se da mais eletrizante edição da série Justiça até o momento. Na décima das doze revistas que compõe essa memorável história da Liga da Justiça o ritmo aumenta e muito! Infelizmente, em meio a tantos socos, pontapés e explosões, sobra pouquíssimo espaço para o desenvolvimento do texto de Jim Krueger, fazendo com que a revista seja levemente inferior às demais publicadas.É evidente, contudo, que mesmo esta edição “inferior” é, de longe, muito superior à esmagadora maioria dos quadrinhos que abarrotam as bancas brasileiras. Mas, dado o altíssimo nível das HQ’s anteriores, as quais tinham o grande mérito de balancear com perfeição a incrível arte de Ross e Braithwaite com o belo e cheio de significados subentendidos texto de Krueger, fica a impressão de que a revista poderia ter um algo mais.As ressalvas feitas acima sobre o roteiro da revista (as quais serão ainda abordadas na parte final deste review) de forma alguma significam que a HQ seja ruim. Pelo contrário, de leitura fácil e rápida, é impossível largá-la antes de seu final, graças às impressionantes cenas de ação que preenchem cada centímetro da edição.Como era de se esperar, Ross e Braithwaite não decepcionam; criam cenas empolgantes e repletas de detalhes. Assim, não se surpreenda ao reler a revista e descobrir pontos que anteriormente tinham passado despercebidos. O maior exemplo da riqueza de detalhes e da perfeição na construção dos momentos de ação encontra-se na página 16, onde, em pouco mais de meia página, dezesseis personagens são retratados lutando entre si (isso sem considerar a enorme planta produzida por Era Venenosa e a luz com sinais de interrogação emanado do Charada). É uma impressionante demonstração de talento dos artistas, que dominam como poucos o restrito espaço concedido pela mídia dos quadrinhos.Também merece destaque a atuação do Aquaman, que enfim pôde descarregar todo o seu ódio nos “pobres” Parasita e Arraia Negra. Seus ataques são secos, certeiros, brutais, ou seja, combinam perfeitamente com o estado psicológico do personagem, explorado com precisão nas edições passadas.Cumpre fazer uma menção, ainda, à atitude heróica do Homem-Elástico. Por vezes considerado um personagem do segundo escalão da Liga, demonstra ser digno das mais altas honrarias dedicadas àqueles que abrem mão da própria vida para salvar a do seu próximo. Sua entrega é tão bela quanto penosa.Retornando ao texto de Jim Krueger, entendo que alguns assuntos interessantes não estão sendo abordados ou estão sendo deixados para as próximas edições. O problema é que faltam apenas duas revistas para o fim da série e, talvez, tais temas não tenham o espaço devido na história.Na minha opinião, duas questões que deveriam ocupar lugar de destaque na série ainda não foram mencionados. A primeira diz respeito à utilização da população como um exército contra a Liga da Justiça. Como os heróis reagiriam ao ataque daqueles que juraram proteger? Levando-se em consideração a fragilidade dos humanos normais, qualquer esboço de defesa pode ter resultado mortal. A segunda e principal questão diz respeito à reação da população à tentativa da Liga de “salvá-los”. Devemos sempre lembrar que os moradores das novas cidades são pessoas normalmente excluídas da sociedade: indivíduos com deficiências e limitações que não raro os impedem de executar as mais corriqueiras atividades da vida (conforme se nota das duas primeiras páginas desta edição). Assim, é natural que essa massa de indivíduos enxergue a Legião do Mal como os verdadeiros salvadores, os reais responsáveis por um novo e ilimitado horizonte em suas vidas. Para eles, seriam os membros da Liga da Justiça os verdadeiros heróis?Mais uma vez lembro que as eventuais falhas no roteiro não tornam esta edição ruim, mesmo porque a intensa ação da história (retratada por Ross e Braithwaite de forma estupenda) mantém a tensão do leitor sempre nas alturas, contudo, quando comparada às demais revistas lançadas, fica a sensação de que algo faltou para ser considerada perfeita. Torço para existir tempo hábil para essas falhas serem corrigidas.